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* Popload em Austin, Texas. Sxsw 2012.
Eu tenho umas três, quatro “bandas da vida”. Daqueles grupos “acima de tudo e de todos”, os melhores e mais significantes para a minha ínfima existência, entre a infinidade de bandas das quais eu gostei e gosto desde que me interessei por música. Blablabá.
Normal. Mais ou menos que isso, todo mundo tem as suas.
Um desses nomes do olimpo pessoal da minha irmã, por exemplo, é o Lionel Richie, que mal sabe ela tocou ontem aqui no South by Southwest 2012. Veja você. Veja ela.
Mas, voltando a minha lista, estou desconfiado de que o hoje extinto e distinto grupo americano LCD Soundsystem, quem diria, acaba de entrar nesse seleto time pessoal de bandas inesquecíveis entre as bandas inesquecíveis da minha vida.
Isso depois de ver o fantástico “Shut Up and Play the Hits”, que passou aqui em Austin, na intersecção das mostras de cinema e música do festival.
O LCD Soundsystem tem tudo o que eu gosto numa banda. O baixo é incrível, a bateria é incrível, as letras são ótimas, James Murphy é gênio, a guitarra soa como esguirçada quando tem que soar esguirçada, soa melódica quando precisa ser melódica. O dance punk que eles fazem é o encontro perfeito de duas coisas que eu prezo demais em música, que é a “dance music” cerebral e é o punk destruidor. Eles são influentes ainda hoje, e de uma maneira bem absurda, que muita banda nova nem sabe que percorre a trilha que James Murphy abriu.
Pois bem. “Shut Up and Play the Hits” é o documentário sobre a última apresentação ao vivo da importante banda americana LCD Soundsystem, que cada dia que passa eu vou entendendo, no conceito da chamada “música nova” de 2000 para cá, é cada vez mais importante.
O LCD Soundsystem, você sabe, teve suas atividades encerradas em abril do ano passado, depois de um suntuoso concerto “em casa”, no Madison Square Garden, com ingressos esgotados.
Tido como o “The Last Waltz” da geração electro-rock, em referência ao documentário dos anos 70 sobre o último show do grupo The Band, dirigido por Martin Scorsese, “Shut Up and Play the Hits” é fácil o melhor documentário de música dos últimos anos.
O filme estreou no começo do ano no festival indie de Sundance, anda percorrendo outras mostras de cinema e entrou em pequeno circuito na Inglaterra em janeiro deste ano. E, parece, deve virar DVD ainda este ano.
Criado por Dylan Southern and Will Lovelace, que fizeram o filmaço do Blur no Hyde Park, “Shut Up and Play the Hits” cola em James Murphy, líder do LCD Soundsystem e um dos “gênios” da música jovem de 2000 para cá, para mostrar através dele as 48 horas que circundaram o derradeiro show da banda, mostrando o músico horas antes de ir ao MSG, a apresentação em si e o que aconteceu depois do concerto. Dos passeios com o cachorro e viagens pelo metrô até a marcante entrevista com o jornalista e escritor americano Chuck Klosterman, que pontua o filme todo.
“Shut Up and Play the Hits” é emocionante, bonito em cada uma de sua película, com excelente fotografia e sem falar na excelente performance do LCD Soundsystem em si antes da aposentadoria, literalmente tocando como se fosse “o último show da vida”.
Como James Murphy costuma dizer, é metade um funeral, metade uma grande festa.
Como vi num blog americano, em definição perfeita, é um mashup perfeito de cinema, jornalismo, documento e performance musical.
Foi difícil sair do filme do show do LCD Soundsystem para ver shows “comuns” no Sxsw, depois. Haha.
São emocionantes algumas partes da entrevista de Klosterman com um James Murphy meio excitado, meio em frangalhos pelo fim da banda. Uma das melhores, perto do fim, é quando se discute os sucessos e os fracassos do LCD Soundsystem. Murphy não fala muito dos sucessos, embora pessoalmente eu ache que ele devia ter citado o Popload Gig em que eles tocaram, no ano passado. Haha.
Mas, enfim. Numa das perguntas, entrevistador e entrevistado dizem mais ou menos assim:
– É famosa aquela história de que todo artista que conseguiu o sucesso desejado lembra também algum fracasso que tenha forjado sua trajetória bem-sucedida. Qual foi o fracasso do LCD Soundsystem que mais te marcou?”
– Ter parado a banda.
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