Top 50 da CENA – Marina Sena lidera o pós-Carnaval. MC Tha mostra umas coisas bonitas em segundo. E o Bin Laden feat. Gorillaz pega o terceiro

O bordão que o ano começa após o Carnaval nunca foi tão verdadeiro quanto em 2023. O pop brasileiro, do mainstream das grandes gravadoras ao alternativo dos pequenos selos, arregaçou as mangas e armou uma enxurrada de lançamentos. Segura! 

Aqui o maior exemplo de que o ano começa depois do Carnaval. A mineira Marina Sena esperou a Quarta-Feira de Cinzas ficar no passado para soltar o primeiro single do seu segundo álbum, que promete ser uma jornada sobre sua temporada paulista. Sem férias desde que bombou com a estreia solo, “De Primeira”, Marina faz sutis mudanças sonoras e visuais para a nova fase, agora apoiada por uma grande gravadora. Mas o crescimento não afastou elas das companhias de sempre: seu parceiro Iuri Rio Branco continua firme na produção, por exemplo. Quem gostou do balanço do primeiro álbum vai curtir a frequência meio pop/meio tropical da nova música, que chega a saudar Caetano em “De Noite na Cama”. Uma música para noites quentes de verão. Quentura climática e/ou corporal, digamos. Mestrona das redes sociais, Marina também já garantiu qual será a dancinha de “Tudo pra Amar Você” – uma coreografia entre o debochado e sexy. Tem tudo para pegar você.  

Outra que esperou a folia acabar foi a MC Tha, que preparou uma letra especial para o dia seguinte dos rolês carnavalescos, especialmente se te aconteceu algum daqueles encontros/desencontros que pesam no coraçãozinho da nublada Quarta de Cinzas. “Dois corpos se encontram em uma noite de Carnaval e seguem rasgando a manhã juntos. Sem saber ao certo no que vai dar, os enamorados aproveitam o embalo do mar e de tudo o que resta até a festa terminar”, é o texto que acompanha a música no YouTube. Coisa linda essa música. Viciante. 

Rolou uma decepção coletiva quando saiu “Cracker Island”, o novo disco do Gorillaz, e nada da esperada participação do brasileiro MC Bin Laden, feita quando Damon Albarn veio ao país para alguns shows, no ano passado. Onde estaria a gravação? Ela veio agora na edição de luxo do álbum, lançada nesta segunda-feira. Uma track envolvente onde Bin Landen nem é “featuring”, praticamente. O homem é o destaque rimando em português o tempo todo, com Albarn só pontuando num refrãozinho malandro. Desculpa aí, Gorillaz, mas esta é nossa. Vai, Brasil, ho ho ha ha.  

Uma característica que deve pontuar o novo trabalho da turma do Bike, banda paulistana psicodélica, é uma instrumentação artesanal adicionada ao grupo, o que dá uma sonoridade “artística e bruta” para as novas composições, como bem definiu o vocalista e guitarrista Julito Cavalcante. “O Torto Santo”, primeira pista desta nova fase, conta com produção do guitarrista Guilherme Held, que também contribui na experimentação nova. A curta letra abordas múltiplos lados de experiências da vida. Dependendo de quem e de como se encara cada coisa pode ter um valor diferente. Já notou isso?  A música sai nesta semana e assim que ela der as caras no streaming a gente traz ela para nossa playlist.

A gente estava dando uma olhada na programação do festival GRLS! de 2023, que acontece em SP nesta semana, e Alcione é um dos destaques brasileiros. Ainda que geralmente este Top seja sobre novidades, vale voltarmos a 1975 e ao disco “A Voz do Samba”, uma estreia impecável de uma das nossas maiores vozes. “Acorda Que Eu Quero Ver”, composição do gigante do soul music brasileiro Carlos Dafé, é daquelas que arrepia. Alcione esbanja sua sabedoria vocal enquanto a banda leva a instrumentação para vários lugares – o teclado desta música é puro jazz. Repare. 

E a nossa expectativa em alta da semana é para os curitibanos do Terraplana, bandaça de shoegaze que lança quarta-feira agora “Olha para Trás”, seu primeiro álbum. A gente já escutou esse disco de estreia dos paranaenses e está coisa fina. Mais um acerto da turma da Balaclava. Vamos falar mais deles por aqui, certeza!

Em “Noitada”, seu curtíssimo novo álbum, Pabllo Vittar mostra que continua na dianteira da música pop brasileira ao não ter medo de pensar seu som sempre a partir do Brasil. Os gringos que corram atrás dela. E, se em “Batidão Tropical” Pabllo buscou a referência em suas raízes musicais da adolescência, a investigação da vez passa pelos sons que tocam pelas madrugadas do país – do Soundcloud made in Rio do DJ RaMeMes ao pagodão da Bahia por d’O Kannalha, entre outras vertentes. Você nunca ouviu a Anitta tão “fritada” quanto na maluca “Balinha de Coração”. É a vida adulta tomando forma – livre, leve e soltíssima na balada . Se permitir, experimentar e ousar são alguns do verbos que cabem nas letras, que não temem apelar para os duplo sentidos sacanas capazes de corar qualquer puritano. “É culpa do cu-pido”, afinal. 

No Instagram do cearense Mateus Fazeno Rock, uma fã chamada Luana comentou sobre “Melô da Aparecida”, novo single do artista: “Incrível como tu consegue colocar as sutilezas da vida de quem mora em periferia na letra, de uma forma que fica extremamente emocionante de ouvir. Aquele rock que te representa (…) Às vezes a gente até gosta de rock e não sabia, só não se identificava com branco classe média”. Não tem descrição melhor para o trabalho de Mateus. Como ele mesmo explica, neste som a tentativa é contar a história de crianças pelas ruas de Sapiranga, periferia de Fortaleza. “A faixa fala sobre as relações da infância com alguns cotidianos violentos, a construção da noção do que é ser um menino na favela. Mas não é storytelling linear, é um emaranhado”. Para desenlaçar, recomendamos repetidos plays. Mateus sabe o que está fazeno.  

Tagua Tagua, projeto solo do compositor e produtor gaúcho Felipe Puperi (ex-Wannabe Jalva), chega agora em março ao seu segundo álbum, que vai ler o nome de “Tanto”. A ideia de Felipe no novo álbum é explorar novos caminhos, indo um pouco além do que se aventurou no já muito bom “Inteiro Metade”, lançado em 2020. Saem as cores mais vibrantes do primeiro trabalho e fica uma clima mais azul, como um fim de tarde que esfria uma tarde quente. É como se Felipe rumasse para dentro da noite, mas otimista, em movimento. E isso é o que vale. Deixar “pra trás” o que já passou – seja bom ou ruim, já passou. 

Muita atenção para o nome de Nina Maia. A jovem de 19 anos, que já vem impressionando muita gente boa em suas apresentações pelas noites da capital paulista, segue com seus primeiros passos pelas plataformas de streaming. A delicada “Gosto Meio Doce”, que ela divide com a cantora e cellista e amiga Chica Barreto, outro talento jovem, é a estreia oficial dessa jornada dela, que logo terá lançamentos próprios, em músicas que pode trazer composições que ela rascunha desde os 12 anos de idade. No caso dessa dupla de “Gosto Meio Doce”, em particular, vale dizer, que elas se apresentam em breve na Blue Note, em São Paulo, no próximo dia 23. Se na cidade, vá. Essas meninas são especiais.

11 – Chico César – “Ligue o Foda-se” (5)
12 – Sant – “Nuvem Negra” (6)
13 – Gustavo Bertoni – “Marionettes” (7)
14 – Tim Bernardes – “Modinha” (8)
15 – Danilo Cutrim – “Vai Cair” (9)
16 – Maria Beraldo – “Truco” (10)
17 – Jonathan Ferr – “Preterida” (11)
18 – Mu540 – “Jatada Nostálgica Automotiva” (12)
19 – Jup do Bairro – JUP ME” (13)
20 – Betina – “O Coração Batendo no Corpo Todo” (com Luiza Lian) (14)
21 – terraplana – “Conversas” (15)
22 – Karen Jonz e CSS – “Coocoocrazy (com CSS) (16) 
23 – 2DE1 – “Sin Perder La Ternura Jamás” (17)
24 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (18) 
25 – ÀIYÉ – “Onda” (20)
26 – Letrux – “Esse Filme Que Passou Foi Bom” (21)
27 – Marcelo D2 – “POVO . DE . FÉ” (22)
28 – Lurdez da Luz – “Devastada” (23)
30 – Kamau – “DoisTrês” (24)
31 – Anelis Assumpção – “Rasta” (com Mahmundi) (25) 
32 – Funmilayo Afrobeat Orquestra – “Wikipreta” (com Monna Brutal) (26)
33 – TUM – “Polychrome” (27)
34 – JP – “Arroz de Polvo (com Holger)” (28)
35 – Wry – “Carta às Moscas” (29)
36 – Tássia Reis – “Rude” (30)
37 – Der Baum – “I Got a Soul” (31)
38 – Marina Gasolina – “Looking Through The K-Hole” (32)
39 – Luedji Luna – “Blue” (33)
40 – Assucena – “Menino Pele Cor de Jambo” (34) 
41 – Rincon Sapiência – “MAGIA” (com Menor MC) (35) 
42 – Rashid – “Linha de Frente” (com Amiri e Don L) (36) 
43 – Cidade Dormitório – “Aribé I” (37)
44 – BK – “Continuação de um Sonho” (38)
45 – Mundhumano – “Guerreiras Urbanas” (com Conceição e Flávia Carolina) (39)
46 – Sulamericana – “Dia Bom” (40)
47 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (42)
48 – Tuyo – “Sonho Antigo” (43)
49 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (44)
50 – Sci Fi – “Sixteen” (45)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a mineira Marina Sena.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.