Popload no Lolla 2023 – Nacional. O que vimos e o que achamos

De Baco Exu do Blues fazendo um dos melhores shows do festival (e era só para ser uma substituição de última hora,…) a Pabllo Vittar batendo recorde de feats. sem nem estar no line-up, os artistas brasileiros marcaram grande presença no Lolla BR 2023.

A CENA tem sido fortemente representada nos line-ups do Lollapalooza já tem anos, mas recentemente sentimos que uma parte cada vez maior do público chega mais cedo para acompanhar os shows nacionais.

Não foi exatamente o que acabou rolando no show da Gab Ferreira, que, acidentalmente, abriu o festival para um público muito menor do que o esperado, por conta de um atraso na abertura dos portões. Mas, além de um ótimo show ainda assim, a Gab soube reverter a experiência ruim, transformando o ocorrido num ganho para chegar a um público fã maior do que tem.

O que conseguimos destacar da CENA no Lolla 2023 está aqui embaixo :

– Baby – Em uma sexta de sol, um som bem brega do Norte foi ótimo para abrir o apetite para os próximos dias. Baby é formada por Luê e Mateo. Talvez você já conheça Mateo por seu trabalho na banda Francisco El Hombre. O casal começou a fazer música juntos durante a pandemia e o projeto ganhou tanta força que foi parar no Lolla. Se você curte um brega, vale a pena sacar o som deles. Porque o show funcionou bem.

– Black Alien – Sexta-feira, inteirinho de branco, Black Alien entrou no palco todo sorrisos. Acompanhado do DJ Erick Jay, que pode ser chamado de melhor DJ do mundo baseado nos seus títulos mundiais, o rapper celebrou sua melhor fase, tocando boa parte do seu álbum “Abaixo de Zero: Hello Hel”, que tem versos que por acaso celebram atrações que veríamos mais tarde, como Paralamas (em “Área 51”) e Jane’s Addiction (“Carta Pra Amy”). Era felicidade estampada em seu rosto ao sacar a reação dos fãs aos seus versos de superação de tretas complicadíssimas. É nessa hora, ali ao vivo, que você que falas como “Dropo com muito respeito a frase que/ Muda a escolha de alguém no parapeito” é mais que um jogo de palavras. É papo real.

– Ana Frango Elétrico – Agradar aos fãs de carteirinha dos headliners não é tarefa fácil, ainda mais quando falamos no público da cantora nova-iorquina Melanie Martinez. Mas a carioca Ana Frango Elétrico (foto acima e no destaque da home) foi a escolha perfeita para começar a aquecer aqueles fãs, que de repente se viram cantando e pulando junto com a brasileira, mesmo parecendo nunca ter ouvido falar dela. Isso é festival. E Ana Frango Elétrico é hoje uma das vozes mais expressivas da CENA. Suas letras e o jeito de cantar são disruptivos, mas é exatamente isso e sua banda fenomenal que a destacam como uma das melhores apresentações ao vivo da nova MPB. 

– Tássia Reis – Com show inédito comemorando seus 10 anos de carreira, Tássia Reis conseguiu condensar a essência de cada um de seus quatro discos em um set de 40 minutos. A apresentação foi completa e muito linda, mas a cantora teve que lidar com o calor forte e um público que não estava muito na sua vibe. Mais tarde se apresentaram The 1975 e Twenty One Pilots, cujos fãs tomaram boa parte do espaço em frente ao palco, o que deixou o show de Tássia bem morno, apesar de sua entrega no palco. Coisas de festival.

– Medulla – Com uma sonoridade que vai para todos os lados, talvez o grupo carioca funcione melhor agora, nestes tempos híbridos-e-tudo-bem da música, do que jamais funcionou, quando tinha um certo destaque, ali no meio da década passada. Foi o que sua boa e sólida apresentação no Lolla deste ano, uma espécie de “agora vai” da banda, com single novo e promessa de não parar mais, deu a entender. Ajudou terem participações bacanas como Jup do Bairro e Lucas Fresno. Mas o som maluquinho rap-rock-MPB-eletrônico tudo junto e misturado do Medulla nem precisava de convidados para segurar o rolê.

– Gilsons – Pelo horário e pelo sol, a expectativa já era a de um público bem OK para o show dos Gilsons (foto acima), mas teve muito mais gente do que o imaginado para ver a banda familiar. Eles abriram com o faixa-título do álbum “Pra Gente Acordar” e a música literalmente acordou o público. O gramado em frente ao palco encheu absurdo e, quando o show chegou ao fim, o hit “Várias Queixas” ecoava na voz de milhares de pessoas. Os herdeiros de Gil estão fazendo um grande trabalho representando a nova geração da MPB com sonoridades clássicas e familiares. E isso deu para ver ali, ao vivaço.

– Pitty – Com um trio básico de guitarra, baixo e bateria, formação do seu ínicio de carreira, Pitty equilibrou no festival faixas do recente “Matriz” com coisas mais antigas, especialmente do álbum “Anacrônico” e “Admirável Chip Novo”, cuja turnê especial de 20 anos foi de certa forma antecipada na apresentação do Lolla. O show também comprovou que “Equalize” e “Na Sua Estante” já tem habilitação para entrar no panteão de clássicos do rock nacional. 

– O Grilo – Em sua segunda participação no festival, a banda paulistana O Grilo reforçou sua composição usual com backing vocals, teclados e uma segunda guitarra, mas o que fez mesmo a diferença foi o público. Às 14h do terceiro dia de festival, o domingo, com aquele sol torrando na cabeça, O Grilo conseguiu chamar um público expressivo e que veio mais cedo só para vê-los. Com direito à inédita do próximo álbum e projeções fofíssimas, O Grilo fez um ótimo show. Parece que os novinhos tem uma boa jornada pela frente. 

– Baco Exu do Blues – Quem precisa de Drake quando se tem Baco Exu do Blues?, era a sensação no Lolla domingo quando acabou a apresentação do rapper e cantor baiano. A “facção carinhosa” estave presente em peso para acompanhar o show e o que poderia ter sido só uma substituição ao show da ausente Willow, graças ao cancelamento de Drake (literalmente), virou um dos principais shows da noite derradeira do festival. Foi uma apresentação impactante, com direito a homenagem linda a Gal Costa, e hits seus como “Me Desculpa Jay Z” e “Samba em Paris”. O show acabou sendo uma excelente abertura para Rosália. 

– Rashid – 2019 e os raios, 2020 e uma pandemia, 2022 e os raios de novo que teimaram em atrasar só o seu show. Parecia que nunca ia sair do papel a apresentação do Rashid no Lolla (abaixo). Mas o solzão do domingo autorizou que ele fizesse bonito dessa vez. Com uma irônica abertura precedida por sons de chuva, Rashid apresentou faixas do passado e deu um bom destaque para as novidades de “Movimento Rápido dos Olhos”, como a divertídissma “Pílula Vermelha, Pílula Azul”, onde ele interpreta um rapper playboy, e “Ver em Cores”. “Ela Partiu” de Tim Maia deu a deixa para um trecho de “Homem Na Estrada” dos Racionais – uma lembrança de que o caminho no rap nacional é coletivo. Tanto que logo colou Luccas Carlos para cantar “Bilhete 2.0” e os irmãos de vida Projota e Emicida para “Nova Ordem” e “Pipa Voada”. Deu bom. 

– Os Paralamas do Sucesso – A conheciiiiiiida e veterana banda tem repertório para facilmente despejar duas horas e meia de hits e lados B conhecidos. Com uma hora apertada no relógio, o desafio é um passeio. Mais difícil ali era aguentar o sol na cabeça. Uma outra questão do show, no caso lidar com uma plateia muito jovem e ansiosa por Aurora e Rosalía, também foi bem equacionada. Se muito roqueiro se resente dos novinhos, Hebert foi pelo caminho mais carinhoso e abraçou a galera explicando música a música suas histórias e épocas. Conquistou muita gente, certamente.


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* Popload no Lollapalooza Brasil 2023 – Lúcio Ribeiro, Daniela Swidrak, Vinícius Felix e Lina Andreosi. Fotos: Flashbang