Muse faz um disco “quase Muse” e vai de Queen a Slipknot. Conheça “Will of the People”

Finalmente está aqui, o novo disco do Muse. Não que o mundo estivesse exatamente carente disso, tendo em vista que a banda já lançou uma quantidade suficiente de álbuns relevantes no passado e seu repertório ao vivo já tem há tempos mais músicas boas do que cabem em um setlist. Mesmo assim, aqui estamos, analisando o que vale a pena no nono (!) trabalho de estúdio deles, “Will of the People”, tanto para fãs quanto para não-fãs. Sabe quando vem uma figurinha repetida, mas na versão dourada?

Uma breve olhada nas informações do disco já revela algo interessante: é o álbum mais curto da carreira da banda, o que acaba funcionando muito a seu favor. Pode parecer um elogio esquisito, mas o Muse tende a pecar pelo excesso, então ter apenas dez faixas (relativamente sucintas) em 37 minutos já ajuda qualquer pessoa que tenha ficado com uma certa má-vontade depois dos trabalhos mais recentes deles, que sempre oscilaram muito em qualidade. Já começa ganhando em relação aos seus últimos quatro trabalhos.

O disco “Will of the People” não ousa muito, não tenta levar o Muse em uma direção nova (como “Simulation Theory” fez com a temática retrô-futurista), nem tenta ir para um som especifico (como “Drones” tentou com o rock de estádio). Na verdade, é um buffet de quase todos os estilos que já fizeram em seu passado, puxando algo diferente em cada música – e forçando a barra um pouco mais do que o esperado. Geralmente para o bem.

Tem a tentativa de hino de estádio (faixa-título) que quase lembra Imagine Dragons; o synth-pop descarado (“Compliance”) com letra que parece do Rage Against the Machine; e a balada progressiva imitando Queen (“Liberation”) sem vergonha alguma, quase puxando o coro de “The Prophet’s Song” no fim, mas miraculosamente ficando em três minutos de duração. 

Fazem uma fusão bizarra do pop do Weeknd e do metal do Porcupine Tree (“Won’t Stand Down”), que soa muito melhor no contexto do álbum do que era como single; uma balada de piano (“Ghosts”) que não vai a lugar algum e provavelmente nunca será tocada ao vivo; e uma música absolutamente ridícula (“You Make Me Feel Like It’s Halloween”) que você não sabe como tiveram a coragem de gravar, mas aí lembra que é o Muse – e pelo menos o vídeo é legal e apropriadamente absurdo.

Também criaram o que talvez seja sua melhor música puxando para o metal em “Kill or Be Killed”, quase uma releitura de “Stockholm Syndrome” em alguns pontos, porém mais contida na parte que menos interessa (os sintetizadores do refrão) e mais exagerada na parte que mais interessa (quando Matt Bellamy grita “WAAAAAAR” e o Slipknot brevemente habita o disco). 

Mais para o fim, tem a típica balada pop (“Verona”), que ninguém lembra alguns meses após o lançamento; o rock meio punkzinho (“Euphoria”) para preencher um espaço; e um encerramento apocalíptico (“We Are Fucking Fucked”). Mesmo que essas faixas não sejam lá memoráveis, pelo menos elas não se arrastam.

Dificilmente você encontrará um fã do Muse que afirme gostar de absolutamente todas as músicas aqui, mas duvido achar algum que não acrescente pelo menos uma dessas faixas na sua playlist “best of” deles. “Will of the People” é agradavelmente enxuto, não tem nenhuma faixa-interlúdio para encher o saco e entrega um material que revisita sons antigos sem parecer uma versão cover do Muse – pelo contrário, até melhoram em alguns aspectos. E isso já é mais do que o suficiente para uma banda que não deve mais nada a esse ponto.


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Por Fernando Scoczynski Filho

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