Adele contra o Oasis. E no “Saturday Night Live”. E a crítica de “25”, o álbum mais importante do ano

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* Affe. O furacão Adele sopra forte. E o “importante” do título acima tem vários significados para a música pop.

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Como uma bomba atômica, o disco “25”, terceiro e novo álbum da cantora inglesa Adele, explodiu na música pop na última sexta-feira, ao ter lançamento mundial, precedido dias antes pelo single “Hello”, outro barulhentíssimo acontecimento a agitar a indústria como faz tempo não acontecia. Primeiro porque o disco, de tal magnitude, só foi vazar na íntegra, graças aos russos, na quinta-feira, apenas um dia antes de sair às lojas. Segundo porque a expectativa é que o disco físico venda absurdamente, quebrando recordes, assim como a canção “Hello” quebrou também no mundo virtual. Só para os Estados Unidos, foram exportados da Inglaterra quase 3.5 milhões de cópias para as lojas. De um formato semimorto.

Outra prática “contracorrente” é que o álbum foi proibido de ir a programas de streaming tipo “Spotify” e “Rdio”. Adele vai fazer repensar o modo de consumir música hoje em dia?

Nas primeiras 24 horas de vendas, dados compatibilizados nas primeiras horas do sábado, “25” vendeu 300 mil cópias apenas no Reino Unido. A expectativa é de que o novo da Adele quebre o recorde de disco mais vendido na primeira semana na historia britânica, batendo um recorde de quase 700 mil cópias passando por caixa registradora que o Oasis conseguiu em 1997, com o “Be Here Now”, também seu terceiro álbum.

((O segundo disco de Adele, “21”, vendeu 208 mil cópias em sua primeira semana, em janeiro de 2011.))

Desculpe-me resumir assim: naquele tempo vender disco era uma coisa. Hoje em dia, vender disco é uma outra coisa.

Na própria sexta-feira de lançamento, publiquei na Folha de S.Paulo uma resenha de “25”, onde trato o disco como um outro fator à luz da temática “o consumo de música hoje em dia”. Até mais sério do que saber se “25” é bom ou não é bom. Reproduzo ela aqui, na Popload, mais abaixo.

Antes, trago os dois vídeos de apresentação de Adele no programa nova-iorquino “Saturday Night Live”, de anteontem. Cantando duas de suas principais músicas do álbum novo.

Tudo a seguir. Primeiro ela no “Saturday Night Live”. Depois a crítica de “25” que fiz para a Folha.

Há dois modos de acomodar este aguardado novo álbum da fenômeno Adele no estado de coisas atual da música popular. O primeiro é ver como é possível, na era do consumo via streaming, download e quetais modernos, construir um disco tão perfeitamente pop com capacidade de vender milhões em cópias físicas, bater recordes históricos e não sair do topo da “Billboard” americana ou do “chart” britânico, com desdobramentos nos outros cantos do mundo, até enjoarmos de ver a capa com o belo rosto de Adele, seus olhos de cor bem tratada, sua maquiagem perfeita e os cabelos bem arranjados.

A segunda maneira é enxergar “25” exatamente como ele é, um álbum, com suas 11 faixas botando holofotes uma atrás da outra na poderosa voz da cantora, sua marca mais significativa. E esse modo não é tão favorável à cantora (e à indústria) quanto o primeiro.

Porque a “golden voice” de Adele, ao mesmo tempo que é uma benção para ela (e para seus fãs), pode ser também sua “maldição”. De identidade tão forte, a garganta de Adele não só abafa facilmente as canções do álbum, muitas delas guiadas por um contrastante dedilhar de piano, como faz o velho exercício de ouvir um disco cheio inteiro um desafio exaustivo.

Dito isso, “25”, uma coleção de músicas diferentes costuradas pela voz de Adele, funcionaria melhor sendo lançado aos poucos, como singles, no máximo EPs, de consumo esporádico. Adele em doses homeopáticas. Sinal dos tempos hoje em dia, em que o fone de ouvido do celular é a nova caixa acústica?

O disco está longe de ser ruim, porém. Com um punhado de músicas boas, outras mais do mesmo, típico de quem está no terceiro disco, em pleno auge, e lança o chamado “álbum de segurança”, sem arroubos de ousadia, “25” tem seus méritos: dialoga exatamente com os outros discos de Adele e é honestíssimo em sua contemporaneidade.

Ao deixar rolar “25” o fã consegue ouvir tudo o que pertence ou ainda pertence à música mais abrangentemente pop, em todos os seus nichos: dá para sentir gospel pop engrandecedor, músicas da linhagem de programas de TV como “The Voice” (porque grande parte das calouras parecem almejar ser exatamente isso: a nova Adele), uma canção ou outra que combina com uma trilha para cenas explosivas de um filme do 007. Não coincidentemente, tudo o que envolve o universo Adele.

Por trás dos milhões que o disco vai vender a partir de hoje, e por baixo da bombástica verve vocal de Adele, “25” é tecido por parceiros produtores/compositores que é um verdadeiro “who is who” da música pop, do indie Tobias Jesso Jr ao midas Max Martin. Em nenhum momento o disco apela para o chamariz fácil de um epíteto tipo “produzido por Dr. Dre, com participação de Rihanna e/ou Taylor Swift”. Exatamente porque Adele não precisa de ninguém maior que ela ou do mesmo nível para vender discos.

Mesmo sem nenhuma faixa aparentemente com a força de “Rolling in the Deep” (do anterior “21”) ou “Chasing Pavements” (da estreia “19”), algumas músicas deste “25”, como “Hello”, “Water under the Bridge” e “I Miss” devem levar Adele ainda mais longe do que ela já foi. Sem se dar conta, segundo ela. Mas com o pop dando bem conta de tudo.

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