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* No final de novembro foi anunciada a vinda inédita e única a São Paulo de Luciano Ligabue, astro do rock italiano, chamado aqui e acolá de “O Bono da Itália”, por várias razões menos a de ter seu som parecido com o U2. Porque, quase toda Itália sabe e venera, Ligabue é Ligabue.
Ligabue é coisa séria. E toca no Teatro Bradesco no dia 20 de janeiro. Outro show na América do Sul, só dois dias depois da apresentação paulistana, em Buenos Aires, Argentina.
A estrela italiana traz a turnê de seu décimo-primeiro disco, “Mondovisione”, nome que explica a visão de mundo que ele quer ter com esses concertos inéditos por aqui. Disse no outro post, repito agora: o álbum saiu na Itália exatamente em 26 de novembro de 2013. E ainda assim foi o disco mais vendido do ano passado lá.
Pintou uma oportunidade de a Popload entrevistar o Ligabue, e é claro que não deixaria passar essa. Convoquei, obviamente, o amigo Gian Oddi, tão italiano quanto brasileiro, “ele mesmo um astro da TV esportiva brasileira”, que tem muitas histórias pessoais para contar envolvendo a banda italiana, o astro italiano.
E Oddi fez a seguinte excelente entrevista com Luciano Ligabue:
Popload – Rock não é exatamente o primeiro gênero musical que nos vem à cabeça quando pensamos em música italiana. É mais difícil fazer rock na Itália?
Luciano Ligabue – O maior problema para fazer rock na Itália é a língua. Porque é claro que é mais fácil usar o inglês, que é uma língua muito rítmica, enquanto o italiano é uma língua mais melódica. Quando você precisa encerrar uma frase com oxítonas, infelizmente no italiano você tem uma limitação muito grande de escolhas. Apesar disso, o rock é um tipo de música que consegue transmitir tanta energia e paixão que é desde sempre a música que eu escuto. Então, ainda que seja um pouco mais difícil escrever os textos para esse gênero na Itália, para mim é irresistível fazê-lo. Eu preciso escrever para esse gênero musical.
Popload – É só uma questão de língua ou o italiano gosta menos de rock?
Ligabue – Isso não. É apenas mais difícil fazer. As pessoas na Itália amam o rock, ainda que do ponto de vista musical sejamos mais conhecidos pelas melodias. Nossa história é sobretudo uma história melódica e é nisso que em geral se pensa quando se pensa em música italiana. Mas a nossa história é feita de muitas coisas que mudaram com o passar do tempo: ainda hoje há quem faça música melódica, e sabe fazê-la bem, mas tem também quem se arrisca em outros gêneros. Hoje na Itália há um grande envolvimento com a cena do rap e do hip hop, por exemplo. Enfim, é normal que se usem formas musicais que chegam do mundo para encontrar a sua própria língua, aquela que é melhor para você se expressar.
Popload – Você é o detentor do recorde de maior público pagante em um só show dentro da Europa [superou o U2, em 2005, com 165.264 pagantes e mais de 180 mil presentes]. É um orgulho especial entre os tantos feitos e marcas da sua carreira?
Ligabue – Bem… sim, é claro que eu me orgulho disso, porque isso me mostra o tanto de afeto que as pessoas têm por mim. Eu me considero um cara de muita sorte. Sou grato ao Universo por me permitir fazer um trabalho que amo, que é escrever canções para as pessoas e tentar me comunicar da melhor forma com todos, sem nenhum tipo de esnobismo. E quando eu sinto que as minhas músicas chegam e são tão importantes para tanta gente, quando vejo que elas cantam as músicas nos shows, fazendo-me ver com quanta paixão se apropriaram delas, eu me sinto orgulhoso do meu trabalho. E ainda mais quando acontecem coisas como essa, com tantas pessoas em um só show. Fiquei orgulhoso por todo o trabalho feito até aquele momento, mesmo sabendo que isso te traz mais responsabilidades. Sabendo que você terá sempre que fazer melhor logo em seguida para se manter à altura de todo aquele afeto.
Popload – Já li comparações suas com Bruce Springsteen, Bono Vox e até mesmo Bon Jovi. Te faço uma pergunta que nenhum artista gosta muito: alguma delas faz sentido? E, sem sim, qual faz mais?
Ligabue – Bom, é óbvio que eu penso que sou eu mesmo, porque cada ser humano é assim e procura ser a si mesmo ao máximo possível. Mas eu fui um grande apaixonado por Bruce Springsteen e um apaixonado ainda maior pelo U2, que foi uma banda importantíssima para mim, uma banda que me emocionou demais. Já Bon Jovi eu ouvi bem menos. Enfim, não sei se isso me coloca numa condição de ter referências deles. Pode ser que, escutando-os, alguma coisa deles acabe na música que eu faço. A minha intenção é sempre de ser o mais pessoal possível, mas certamente eu não escondo as minhas paixões.
Popload – Você é muito fiel ao seu estilo de música e àquilo que agrada aos seus fãs. Quase 25 anos após o lançamento do seu primeiro CD, podemos dizer que os “acordes melhores continuam sempre aqueles três” [trecho da música “In Pieno Rock’n’Roll”]?
Ligabue – [Risos] Sim! No sentido que eu acredito muito na filosofia do blues. O blues que é, para mim, a música que criou tudo que veio depois: o rock deriva do blues. E o rock foi e é o tutor, o gênero que mais mudou a sociedade, os costumes. Conseguiu chegar a muita gente propondo sempre um ponto de vista diferente. O blues se baseia sempre em três acordes, porque o que importa não é tanto o número de acordes, mas como você usa esses poucos acordes. E sobretudo como você consegue escrever novas melodias sobre estes poucos acordes. Então eu gosto da ideia que as músicas se baseiem em poucos acordes para que depois, ainda assim, consigam se sustentar. É uma questão de expressão: o blues é todo expressão. Alguém disse que quanto mais as coisas são simples, mais elas são difíceis. Concordo com esse ponto de vista: quanto menos acordes você coloca em uma música, mais é difícil fazer com que aquela música seja uma música que tem um sentido.
Popload – Seus shows têm uma energia e agitação incrível, mas o show em São Paulo será em um teatro. Será um show acústico a exemplo da série de shows que você fez em alguns teatros da Itália?
Ligabue – Não, não! Será um show totalmente elétrico. Nós tocaremos a nossa música plugada, mesmo que estejamos em um teatro. E eu espero sinceramente que as pessoas se levantem, se estiverem sentadas. A nossa vontade é essa: usaremos a nossa paixão e energia de sempre, esperando transmiti-la para quem estiver nessa noite, esperando viver e desfrutar da música como eu gosto, como uma espécie de celebração da vida. Você já foi a alguns dos meus shows e sabe do que estou falando. Quero imaginar que vai ser assim também desta vez. Além do que eu nunca estive no Brasil e não vejo a hora de estar aí e ver como é São Paulo, entender um pouquinho, mesmo que em poucos dias, a realidade daí e tocar para que quem estiver no show viva uma grande noite.
Popload – Assim como a Itália, o Brasil não é conhecido pelo rock. Você conhece algo da música brasileira?
Ligabue – Não… Meu conhecimento da música brasileira é mais de quem a fazia no passado. É um conhecimento mais ligado aos compositores como Gilberto Gil, Toquinho… é um conhecimento mais ligado aos autores da Música Popular Brasileira.
Popload – E fora da música? Sei que você é apaixonado pelo futebol, por exemplo.
Ligabue – Sou muito apaixonado por futebol e, para mim, o Brasil é o futebol. Preciso te dizer que eu sofri de verdade com o que aconteceu na última Copa do Mundo, porque eu estava sinceramente torcendo pelo Brasil por saber quais eram as chances da Itália. Para mim o Brasil é o futebol. O futebol é também beleza, do ponto de vista estético, e nenhum país no mundo consegue exprimir beleza no futebol como o Brasil. Mas, enfim, esse é um luto que vocês encararam da maneira de vocês… Eu sempre vi o Brasil de longe, com curiosidade, mas sem conhecer a realidade, e assim eu me arrisco a dizer besteiras. Mas eu o vejo como um país de gente apaixonada que alia grande vontade de viver com um certo tipo de tristeza e consegue viver com estes dois estados de ânimo contemporaneamente. Isso é mais ou menos o que imagino do brasileiro médio, mas claro que é difícil generalizar assim…
Popload – A possibilidade de fazer uma turnê mundial é também um jeito de viver por um período uma vida normal que você não deve conseguir levar na Itália?
Ligabue – Na verdade eu tenho uma vida bem mais normal do que as pessoas imaginam. É verdade, por sorte, que muita gente gosta de mim aqui. Mas eu ainda vivo numa cidade de 20 mil habitantes [Correggio, na Emília-Romanha] onde todos me conhecem, e portanto eu posso andar tranquilamente pelas ruas porque todos estão acostumados comigo. A tour mundial é uma decisão que tomei com meu amigo e manager [Claudio Maioli]. Afinal, o álbum se chama Mondovisione, então é o momento de rodar o mundo e tentar satisfazer sobretudo os italianos que vivem longe da nossa realidade e não podem nos ver ao vivo. Mas também, se possível, satisfazer os curiosos de outros países que, não sabendo quem eu sou, podem ficar surpresos com o que fazemos. É um tour meio trabalho e meio turismo, porque eu aproveito para dar uma volta pelo mundo e curtir ótimas férias, sabendo que no fim do dia vou fazer aquilo que eu absolutamente mais gosto de fazer, que é subir no palco e dar alegria às pessoas e a mim mesmo com as canções que escrevi.
Popload – Nova York, São Paulo, Buenos Aires e Sydney estão entre as cidades com mais italianos no planeta. A escolha das cidades da turnê levou esse fator em consideração?
Ligabue – Bem, sim… eu não participei da escolha pessoalmente, mas certamente a minha agência, a agência que organiza os meus shows, pensou nisso. Imagino que tenha levado em consideração o número de italianos nas cidades que visitaremos.
Popload – Na ficha do seu show consta duração de 1h30. Os brasileiros que forem ao Teatro Bradesco podem esperar mais do que esse tempo, já que você está acostumado a shows mais longos?
Ligabue – Sim, é verdade. Bem, eu acho que isso vai depender muito do que vai acontecer na noite. Nós acabamos de fazer uma turnê nos Estados Unidos, em clubes de rock, e a duração dos shows, que deveria ser de uma hora e meia, acabou sendo maior. Nós chegamos sempre prontos para um espetáculo de mais de duas horas, e depende um pouco da reação das pessoas, do quanto fazemos as pessoas se empolgarem. Se as pessoas estiverem felizes com nosso show, a gente vai até onde der para ir!
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